Maio Laranja: 50 anos do crime da menina Araceli

Em 18 de maio de 1973, exatos 50 anos no passado, acontecia um crime que parou o Espírito Santo: a menina Araceli Cabreira Crespo, de 8 anos, desapareceu enquanto percorria o trajeto da escola para casa. Foi vista pela última vez no ponto de ônibus em frente a um bar e lanchonete em que, segundo testemunhas, estaria um dos suspeitos do crime.

Após acreditar que se tratava de um rapto, os pais de Araceli denunciaram o caso à polícia e distribuíram fotos da menina pela cidade. Houve grande mobilização da mídia e da sociedade em busca daquela criança. No entanto, no dia 24 de maio seguinte, um corpo desfigurado e com marcas e indícios de violência sexual foi encontrado na mata atrás do hospital infantil Nossa Senhora da Glória, próximo à Avenida Reta da Penha. Alguns meses depois, foi confirmado que se tratava dos restos mortais da menina desaparecida.

A morte de Araceli é ainda um mistério na história criminal brasileira, além de um doloroso exemplo de impunidade. As investigações da polícia apontaram três suspeitos de famílias ricas e influentes no Estado, o que causou surpresa e comoção na sociedade capixaba de então. A hipótese da polícia é que Araceli fora sequestrada no ponto de ônibus, levada a outro local em que foi estuprada e mantida em cárcere sob efeito de drogas e, por conta disso, vindo a óbito. Após serem condenados em 1980, os principais (e únicos) acusados acabaram absolvidos em 2ª estância por falta de provas e o caso foi definitivamente arquivado, nunca sendo encontrada (ou procurada) outra linha de investigação.

O caso, acontecido em plenos anos de chumbo da ditadura militar, chocou o país e inspirou a criação do movimento “maio laranja”, dedicado ao combate à violência sexual contra crianças e adolescentes que, infelizmente, é ainda realidade no cotidiano de inúmeras destas pelo país. Em 2021 o Disque 100 e o Ligue 180 registraram cerca de 102 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes. Considerando que apenas 10% dos casos são denunciados, é provável que a realidade brasileira ultrapasse 1 milhão de casos por ano.

A falta de denúncia torna mais difícil o entendimento do problema e a formulação de políticas públicas, programas e projetos. Dessa forma, a prevenção da violência sexual infantil ainda é uma das melhores formas de enfrentar esse cenário. É papel de toda a sociedade proteger crianças e adolescentes contra qualquer tipo de violência, incluindo a violência sexual. Em caso de suspeita de uma situação de violência sexual de crianças e adolescentes, denuncie anonimamente pelo Disque 100, Ligue 180 ou pelo aplicativo SABE.

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